domingo, 26 de setembro de 2010

Resenha: Lost Girls

Por Breno Peruchi




Vamos falar de arte.

Antes de mais nada vamos diferenciar duas coisas: putaria e erotismo. Como todo mundo deve saber, putaria é tudo aquilo que envolva sexo sem a menor preocupação com o conteúdo, desde que o conteúdo tenha mais 25 cm. Erotismo é o sexo tratado de forma tão sublime que passa a ser considerado arte. Por exemplo: This Ain’t Star Trek A XXX Parody é putaria, mal feita e gratuita (principalmente pra quem baixa torresmos.) Emmanuelle não é putaria nem erotismo, é “cavalga-bucho” (™ João Peruchi). Aquela coisa irritante que finge que tem um enredo e passa horas pra mostrar uma siliconada pulando em cima da barriga de um bombado qualquer. Milo Manara é erotismo. É arte. É a libído transportada para o papel.

E eu sou fã de arte. Principalmente graphic novels eróticas.

(Pausa para você me chamar de pervertido... )

Calma aí! Eu disse, GRAPHIC NOVEL ERÓTICA! Não é gibi de putaria! É nada mais que uma história que envolva sexo contada em quadrinhos, e de forma artística.

Enfim. Toda essa ladainha é pra apresentar a você a melhor obra de um dos maiores gênios da nona arte, um barbudo chamado Alan Moore. “Breno, seu imbecil, não há nada de erotismo em Watchmen!” Bom, se você reparar bem, além do estupro, rola um homossexualismo forte ali, mas o fato é que eu to cagando pra Watchmen. A maior obra de Moore é um maravilhoso conto de fadas erótico chamado Lost Girls.

Veja bem. Se você não me conhece direito você precisa saber que eu sou um pouquinho (sic!) pervertido. Não que eu goste de bizarrices japonesas com tentáculos. Mas, no auge da minha adolescência, eu imaginava coisas totalmente impublicáveis. Mesmo assim, não chego nem aos pés do Alan Moore no quesito criatividade onanistica. “Meu Deus, Breno! O que ele pode ter criado de tão sacana?”. Fica calminho aí que eu te conto.

A grande sacada.

Imagina um hotel. Um grande hotel em algum lugar da Áustria no auge da Primeira Guerra. Aí nesse hotel, você junta a Dorothy, a Alice e a Wendy. Sim, você leu direito. A Dorothy do Mágico de Oz, que se chama Dorothy Gale e tem seu vinte aninhos. A Alice do País das Más Ervilhas que se chama Lady Fairchild e já é uma senhora de idade. E nossa querida Wendy, do Peter Pan, que tem seus trinta anos e está casada com um senhor mais velho. O que temos? Três das maiores fofurinhas da literatura mundial reunidas em um só lugar. O que Alan Moore faz? Aquilo que qualquer pervertido de mão cheia faria. (Hehe! Pervertido de mão cheia!) Alan Moore adiciona sexo na trama. E, voi lá, temos um clássico.

E o mais legal de tudo, é que além de pervertido, Alan Moore é um malandrão! O cara escreveu a história, arrumou uma desenhista foda pra ilustrar, e uns quinze anos depois, casou com a mulher! Há! Isso é que é cantada de efeito, meu caro! “Então, Melinda, eu criei uma história muito foda, e a primeira pessoa que veio à minha cabeça para ilustrá-la foi você!” Rá!

Melinda Gebbie, que já tinha um pé fincado no onanismo, não recusou a chance de trabalhar com o barbudo. Alguns anos antes de Lost Girls, a artista trabalhava em uma editora inglesa que foi processada, e condenada a fechar as portas pela acusação de importar pornografia para o Reino Unido! Mal sabia ela que Alan Moore só queria entrar naquelas carnes! (Menos especulação, Breno! Menos especulação.)

*Nota mental: Quando me mudar para a Inglaterra, deixar o HD externo no Brasil.

Voltando a Lost Girls. Quando eu disse que Alan Moore é um pervertido, eu falei muito sério. Porque juntar as três personagens adultas num hotel e botar as três pra fazerem uma orgia é tranquilo. Agora... Recriar as fantasias infantis das três de forma erótica, dá pelo menos uns 200 anos no inferno! E você acha que ele fez isso? Acha que rola um child porn pesado? Acha mesmo? Mas é claro que rola! Não basta as três transformarem o hotel num bacanal frenético, ele tinha que deturpar as histórias originais! E é por isso que amamos Alan Moore.



A história começa com Lady Fairchild, que já está hospedada no hotel a algum tempo, catracando alguma hóspede pura e inocente. Aí chegam Dorothy Gale, com seu sotaque do Kansas e Wendy Potter, mais reprimida impossível. De cara a ruivinha Dorothy já se envolve com um militar cujo nome eu invejo, Rolf Bauer. Enquanto Wendy é ignorada pelo marido mais velho, Harold Potter. HAROLD Potter. Harold POTTER! Se a história não tivesse sido escrita uns 10 anos antes do surgimento do bruxinho, eu teria certeza absoluta de que Alan Moore é doente.

Enfim. Numa bela manhã, Alice e Dorothy se esbarram no restaurante do hotel, rola um climão maneiro, e claro, elas saem de fininho e vão pro quarto se pegar. No outro dia, durante o café da manhã, rola outro climão maneiro e elas vão pro mato se pegar. E é lógico que a Wendy tinha que estar curtindo um voyer por detrás dos arbustos, né? Aí, meu amigo, a coisa pega ritmo! As três já se engalfinham na troca de carícias e o negócio fica quente.

E é aí, também, que a coisa fica perigosa. Porque se fosse só essa pegação adulta e saudável, não teríamos problemas. Mas depois do “ménage literário dos sonhos”, Moore põe as três para compartilharem suas histórias. E os críticos e conservadores de plantão vão à loucura!

Vai curtindo a perversão.



Not in Kansas anymore

A nossa queridinha ruiva, Dorothy, estava em casa um belo dia, quando começa um tornado daqueles típicos do Kansas. Como ela estava sozinha em casa, com seus 16 aninhos, e o mundo estava acabando, o que ela fez? Isso mesmo! Dedilhou o Stradivarius; Datiligrafou a Remmington; Se acabou na mão que nem enxada de pedreiro; Fez amor consigo mesma. E assim, descobriu os prazeres da carne.

Claro que o mundo não acaba, o furacão vai embora, e a ruivinha é tranformada pela experiência. Aí nossa querida Dorothy parte para uma jornada de descobrimento sexual que envolve três fazendeiros cujos singelos apelidos são: Leão Covarde, Homem de Lata e Espantalho! Ah, muleque! Dorothy é feita de gato e sapato na mão dos três até que a madrasta descobre, conta pro pai da garota, e ele decide levá-la a NY para fazer tratamento psicológico. Foda, né? Mas você acha que é só isso? Não! Agora vem a parte sinistríssima!

Você acha que eles foram para NY para a garota se tratar, né? Mas e se eu disser que o tempo todo em que eles estavam lá, o pai da guria dava uns catas nela? Onde está o seu Deus agora?
Vamos contabilizar: ménage à trois, lesbianismo, pornografia infantil, gang bang com fazendeiros, e incesto! Alan Moore, meu velho, eu tiro o meu chapéu para você!



Ah, Sininho!

Wendy e seus irmãos estão brincando num dos parques de Londres quando flagram um casalzinho de adolescentes mandando ver numa árvore. Os três vão pra casa, e quando se preparam para dormir, recebem a visita do maluco do parque, também conhecido como Peter.
O chefinho dos Garotos Perdidos (entendeu de onde veio o título?) parte pra cima da nossa Wendy na frente de seus irmãos. O que os irmãos fazem? Masturbam-se um ao outro enquanto assistem Peter e Wendy fazendo um vuco-vuco gostoso! “Incesto gay?! Cê tá de sacanagem!!!” Calma que tem mais!

Os três irmãos se envolvem com os Garotos Perdidos e praticam uma surubinha regular enquanto um pedófilo chamado “The Captain” assiste tudo. Tudo muito tranquilo, até o Capitão virar cafetão do Peter e estuprar sua irmã, Annabel. (Annabel... Tinker Bell... aham! Ela mesma, a pervertida mór do mundo Disney!)

O taradão tenta estuprar a Wendy também, mas ela acaba com a raça dele e consegue fugir. Eventualmente ela acaba casando com Harold Potter, uma velha bichona nada atraente e que não tem o menor desejo sexual pela nossa heroína. Assim, ela não tem que pensar em sexo, nunca mais!

Harry. Potter. Velha. Bichona!!!



Através do espelho

Alice Fairchild tem seus quatorze aninhos quando um amigo de seu pai abusa sexualmente da garota. Enquanto o velho se satisfaz, a loirinha fica olhando para um espelho e fantasia que está fazendo sexo consigo mesma. Safadinha!

Algum tempo depois, a garota vai para um internato para garotas e, claro, vai à forra! Para não ser muito agressivo, vamos dizer que a guria passa o rodo na escola. Até conhecer e se apaixonar por uma de suas professoras, a Rainha Vermelha, que ao se demitir, carrega a garota para “trabalhar” para ela e seu marido rico.

Assim, Alice vira um briquedinho do casal. E em meios a centenas de orgias alucinantes regadas a drogas e álcool, vê garotas serem abusadas como ela foi e acaba ficando viciada em ópio. Obviamente ela se cansa de tudo, e dá tchauzinho pros dois velhos tarados.



Arte pura

Eu sei que a essa altura do campeonato seu queixo já martelou a mesa umas três vezes. E você obviamente está se perguntando: “Incesto. Pornografia infantil. Suruba. Estupro. Onde é que está a arte nisso, seu imbecil?”. É aí que nosso casalzinho de pervertidos mostra por que eles são fodas.

Os traços de Melinda Gebbie são absurdamente maravilhosos. Cada quadrinho é uma pintura, digna de estar exposta em algum museu não conservador. A artista não desenha, ela pinta as telas com, o que parece ser, giz de cera e num estilo que beira o impressionismo. O resultado é muito belo. Isso sem falar nas capas dos três livros, que são absurdamente geniais.

E a forma com que Alan Moore conta a história, é digna de inveja. Sim, é pornografia comendo desembolada, mas o autor consegue respeitar a sua obra, e a trata com um carinho admirável. Isso é muito raro nas HQs. Na literatura gráfica erótica então, raríssimo. O que faz Lost Girls ser tão bom é o esmero de Moore e Gebbie em criar uma obra de arte.

Uma obra de arte que merece ser lida, relida e absorvida aos poucos. Porque o tapa na cara é grande. E os fracos de coração, ou conservadores de plantão, podem ficar extremamente ofendidos. Mas você, como bom geek que está lendo isso aqui, tem a obrigação de ler essa preciosidade.

P.S.: Lost Girls definitivamente não é recomendado para menores de 18 anos e pessoas facilmente impressionáveis.
P.S. 2: O autor do post não vai pedir desculpas por eventuais palavras de baixo calão e termos sexistas. Afinal, se você está lendo até agora, é porque não liga pra isso e/ou concorda comigo que não falar palavrão num texto sobre Lost Girls é como ir a um show do Rush e não fazer air guitar.


Lost Girls
Romance/Erotismo/Fantasia
História: Alan Moore
Arte: Melinda Gebbie
Publicação: Top Shelf Productions (1991-1992)
Distribuição no Brasil: Devir Livraria
Formato: Edição de Colecionador com Capa Dura. (Hehe, Capa Dura!)
Dimensões: 29x22x1,5
Páginas: Média de 112 páginas coloridas em papel offset 150g
Preço médio: R$65,00 por livro.

11 comentários:

  1. ashsahashsah

    Ótima matéria!

    De fato, Rolf Bauer é um nome invejável.

    Só quero ver a imagem que vai para o mural agora, Sr.vD

    ResponderExcluir
  2. Fui apresentado a um mundo praticamente desconhecido (sem querer me fazer de santo, hahaha) de uma forma bem atrativa, a ponto de despertar a vontade de conhecer isso a fundo.

    Sem duvidas, dps desse post olharei erotismo e soft porn com outros olhos...

    TK.

    ResponderExcluir
  3. legal seu post
    não conhecia esse tipo de literatura
    parabéns

    www.socloserbaby.blogspot.com
    vai láa

    ResponderExcluir
  4. A historia me parece ser boa...mais não pago 1 centavo em qualquer livro.

    ResponderExcluir
  5. HAHAHA.. Adorei "Através do espelho"... Curioso picante... Sucesso..

    ResponderExcluir
  6. sékiso!


    meu deus,muito bom o post,não li tudo,mas vou terminar...o blog também é bem legal,gostei do layout!

    tô seguindo!
    http://problema-eh-meu.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  7. Adorei o post,está de parabens !
    Estou ajudando uma amiga minha com a divulgação do blog dela, ficarei grata se puder seguir e comentar !
    http://gihcamp.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  8. Eu também fui apresentada a um mundo que não conhecia hahaha eu não sabia de toda essa diferença de erotismo e putaria hahha muito interessante , esses livros tbm!
    Sucesso ;*

    ResponderExcluir
  9. Um Tapa na cara da Sociedade hahahaha
    Not sure se é meu tipo de literatura mas concordo que tudo que é feito com tanto esmero pela arte tem que ser no minimo admirado. Seja pelo espanto ou pelo sei lá haha identificação coma história(?!)

    Anyway, gostei do jeito de você contar a coisa toda haha =)

    ResponderExcluir