sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Resenha: Fallout 3

Por Vitor "vD" Duarte




War. War never changes.

Começo essa resenha com o mesmo tapa que Fallout dá na cara de Solid Snake. Do mesmo jeito que Ron Perlman começa a contar como a guerra corrompe a humanidade e como no ano de 2077, o caos tomará conta do mundo. Como toda a tecnologia humana foi insuficiente para salvá-la do apocalipse nuclear e, ao invés disso, foi mais que suficiente para condená-la a sua ruína. Sim, a guerra nunca muda. Fallout, no entanto, mudou.

Quando veio ao mundo no longínquo ano de 1997, esse RPG pós-apocalíptico era bastante diferente. Sua história inovadora e um sistema que traduzia o RPG de mesa para a tela do computador eram apenas melhoradas por uma dublagem excelente e cenários muito bem-feitos para a época. Combate de turnos com muito sangue e violência, em meio à uma abrangência de armas que iam desde pistolas mais básicas até miniguns e rifles laser. E também havia a possibilidade de traçar o caminho que você quisesse para o protagonista: Um grande herói das planícies nucleares, ou a própria personificação da crueldade e da vilania. Você escolheria o destino que mais lhe agradasse. Fallout foi aclamado como um clássico do PC, e não demoraria a ter uma continuação, que um ano depois trouxe tudo que tinha no primeiro jogo, e mais. Uma continuação para a história anterior que apenas melhorou uma experiência que já era fantástica.

De lá pra cá, dois spin-offs foram lançados na série. Fallout Tactics e Fallout: Brotherhood of Steel eram tentativas de emplacar um outro título de Fallout. Não eram jogos ruins, mas não chegavam perto dos seus predecessores da série original.

E dez anos depois de Fallout 2, demos as boas-vindas ao magnífico Fallout 3.



Eu sou apaixonado com essa sequência de introdução.

Nascer na Vault, morrer na Vault

Em Fallout 3, você começa realmente do começo. Saindo da barriga de sua mãe. É lá que seu pai lhe dá as boas vindas ao mundo exterior, e assim que você começa a construir seu personagem. Escolher seu sexo, e a partir de um revolucionário processo de engenharia genética, descobrir como você vai ser como crescer. E aqui devo destacar que a edição de rosto do jogo é uma das melhores que eu já vi. Dá pra editar cada detalhe, e se você for perfeccionista, a sua diversão já começa. Logo depois disso, no entanto, sua mãe morre de complicações no parto, e seu pai fica desesperado.

A tela fica branca, você ouve vozes aleatórias das quais pouco pode se entender, e um ano se passa. Você é um bebê ainda, começando a aprender a andar. Brinca um pouco com seu pai, e o vê saindo para continuar sua pesquisa. Em seguida, você pega um livro no chão: “You are SPECIAL”. É assim que você começa a criar as suas características: Aqui você define seus atributos básicos. Força, percepção, vigor, carisma, inteligência, agilidade e sorte. Mais um passo na criação de sua “ficha”. Depois que você volta, seu pai já está lá pra te ver de novo, e comenta com você sobre uma passagem da bíblia: Apocalipse 21:6. Era o texto favorito de sua mãe. No que você começa a seguí-lo, a mesma tela branca aparece, mais vozes são ouvidas, e nove anos se passam.

Surpresa! Seus amigos da Vault fizeram uma festa de aniversário para você! Dez anos! É hora de ganhar seu PipBoy-3000, a ferramenta mais útil de todos os tempos, diretamente do Overseer! Ele será sua interface para abrir o menu, selecionar equipamentos e verificar objetivos. Nessa passagem, você aprende mais sobre relacionamento com os outros, e começa a decidir se será uma criança boazinha ou um moleque revoltado. Após conversar com todo mundo na festa, seu pai lhe dá o “verdadeiro” presente: sua primeira arma, uma BB Gun. Você a usa para atirar em alvos e em... Baratas gigantes. Logo depois, seu pai e você tiram uma foto pra posteridade, e essa é a deixa para que a tela fique branca novamente, e se passem mais seis anos.

Com 16 anos, você tem que fazer o G.O.A.T, um teste de aptidão para decidir qual será sua função na Vault. Apesar de você estar tentando evitá-lo, fingindo que está doente, é impossível não fazê-lo. Isso também é mais uma etapa da criação técnica do personagem: Aqui você decidirá suas habilidades secundárias, como capacidade de usar armas e intimidade com fechaduras e explosivos, de acordo com as respostas do teste. Logo depois, o flash branco te cega novamente, e você avança mais três anos no tempo...

Aqui o bicho tá pegando. Você de repente acorda, e recebe a notícia que seu pai saiu da Vault. E o pior, o Overseer está atrás da sua caveira por achar que você o ajudou a escapar. Não resta dúvida que você também tem que fugir, ou será morto. E assim você ganha sua primeira missão: escapar do lugar onde você viveu durante 19 anos. Como você o faz, não importa. O importante é que, depois de fazê-lo, você se depara com o mundo exterior. E aí, meu amigo, é que a sua aventura pós-apocalíptica realmente começa.




Uma história com as suas regras

Fallout 3 é, em essência de gameplay, um shooter FPS/TPS com controle livre. O mundo é seu para andar onde quiser, desde o início. O que você vai encontrar, no entanto, é outra história. Tudo depende da trajetória que você quiser seguir. E de como você se armar, eventualmente.

O jogo te dá possibilidades imensas de equipamentos e armaduras, justamente como seus predecessores. De novo, suas armas vão da mísera BB Gun até a poderosa Fat Man, que você vai querer usar pelo menos uma vez na vida. E no departamento de vestimentas, suas escolhas vão desde o macacão padrão da Vault 101 até a armadura cheia de glória da Brotherhood of Steel. Desnecessário dizer, ao fim do jogo você pode estar um monstro de tão forte.

Combates são em tempo real, como todo bom shooter que se preze. No entanto, Fallout 3 ainda é um RPG, e como tal não poderia deixar de ter elementos do mesmo. Quem jogou os antigos sabe que o V.A.T.S. é um sistema glorioso de mira durante combate, e aqui ele envelhece maravilhosamente. No meio do tiroteio, ao apertar um botão, um zoom é feito no inimigo. E aí você pode escolher em qual parte do corpo dele você quer focar seu tiro. O que se segue então é uma visão de câmera em que você acompanha toda a ação em câmera lenta, e vê de perto os danos que seu ataque causa. Claro, a probabilidade de acertar depende de fatores como distância e localização, e a habilidade gasta Ability Points, AP, que são regenerados com o tempo. Mas usar o V.A.T.S. é pura carnificina.



Os gráficos são lindos, simplesmente. É uma retratação ótima e fiel de Washington DC, exceto pelo fato dela estar totalmente destruída pelo holocausto nuclear. As cidades, estruturas, estações abandonadas de metrô e prédios destruídos são feitos com muito cuidado. A região de exploração é MUITO grande, com uma quantidade absurda de localizações possíveis. Em cada localização, um aspecto diferente, personagens diferentes, situações diferentes. Todos os rostos das pessoas que você encontra aproveitam muito do editor acima citado, e é difícil você ver duas pessoas exatamente iguais. Tudo é feito com um nível de detalhamento muito alto, desde as roupas até o interior das casas. E a trilha sonora? Eu não sei de onde veio a idéia inicial de juntar o pós-apocalipse com músicas dos anos 20 e 30, mas aquela apresentação ali em cima é só uma prévia do que você vai encontrar no jogo. E que lindo que isso é. Cabeças rolando e membros despedaçados ao som aconchegante de um bom vinil. Pura poesia.



A interação com as pessoas não poderia ser diferente. Estamos falando de um RPG inspirado em regras de mesa, logo você pode realmente fazer o que quiser. Quer estourar os miolos de uma pessoa aleatória que você não gostou? Fique à vontade. Só se lembre que suas ações definem o seu caráter, representado pelo karma. Quanto mais boas ações você fizer, seu karma irá subir, fazendo com que as pessoas te vejam como uma pessoa boa. E do mesmo jeito, quanto mais tripas você espalhar pelo chão, mais as pessoas vão te ver como um anjo da morte. É engraçado que até a rádio local começa a falar de você diferentemente, dependendo de como você aja. Vale lembrar que suas habilidades e atributos também são relevantes na sua interação com as pessoas: Por exemplo, quanto maior a sua habilidade em Ciência, mais termos científicos você poderá utilizar, assim como será mais fácil persuadir uma pessoa de acordo com seu carisma.

Fallout é um jogo de escolhas, sempre foi. E aqui isso não muda. Todo caminho que você trilhar deve ser devidamente ponderado para alcançar o objetivo desejado. Claro, é fácil ser aleatório e fazer o que quiser sem pensar nas consequências. Mas a graça e a possibilidade de centenas de horas de jogo residem no que você vai decidir durante a sua experiência.

Malditos, malditos bugs

Infelizmente, Fallout 3 tem problemas. A megalomania é tanta, o jogo é tão grande que não era possível que todos os bugs fossem achados. Existem pontos onde seu personagem trava, e você tem que carregar o jogo novamente. As quests às vezes são imprevisíveis, e em algumas parece que você sabe de assuntos que não deveria saber. Nomes de pessoas que você não conhece, funcionalidades de objetos que você nunca ouviu falar. Passa a impressão de que você é esperto DEMAIS para um cara que está nesse deserto nuclear há apenas algumas semanas.

Sem contar a AI das conversas, que é meio inexistente. Você conversa com uma pessoa em um momento, ela te trata bem e tudo o mais, e na hora seguinte ela não quer mais olhar na sua cara. As opções de diálogo com todo mundo são trilhões, mas você acaba se confundindo. Fica algo do estilo “Por que fulano falou isso sendo que eu não conversei com siclano” e por aí vai. Algumas vezes você perde informações valiosas e quests opcionais na brincadeira. É como se você tivesse que seguir um certo roteiro definido pra poder ativar do jeito que o jogo quer. Não deveria ser assim. É exagero pedir isso, mas tantas opções são dadas. O sentimento é que não houve cuidado com isso.

Isso irrita às vezes em Fallout 3, mas no fim é compreensível. Não há megalomania perfeita, e aqui não há exceção. Nada que prejudique muito o gameplay - apesar de eu já ter visto uma ou outra pessoa parando de jogar por causa de um certo bug - mas à longo prazo dá pra relevar e aprender a olhar por cima disso.



Veredito:

Fallout 3 é um jogo infinito. E ele triunfa exatamente nesse ponto: Não importa o quão longe você esteja em sua história principal, sempre que jogá-lo a sensação será de estar jogando uma partida de RPG. Centenas de horas de jogo não serão o suficiente para visitar tudo que existe em Washington DC. Acaba que você pode sempre revisitar para fazer uma quest ou outra. Eu recomendo a compra desse jogo infinitamente, em qualquer ocasião possível. Ainda mais pra quem já conhece a franquia de longa data. Só pra você entender que, realmente, [clichê] War. War never changes. [/clichê]



Fallout 3
RPG/Shooter
Desenvolvido e distribuído pela Bethesda Softworks em Outubro de 2008
PC, Xbox 360, PS3
Utilizada a versão de Xbox 360 para essa resenha.
História terminada uma vez como herói, várias sidequests feitas.

5 comentários:

  1. parece ser mto bom ein...abçs

    http://vauneiguimaraes.blogspot.com/

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  2. Fantástico!

    Eu tenho muita curiosidade pela série, mas só joguei o Brotherhood...

    Só queria saber se é necessário jogar os dois outros para jogar o 3º?

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  3. Eu vi o Preview do jogo naquele programinha do Multishow, q fala sobre jogos em geral.
    E desde aquela epoca eu ja n tinha curtido.. Pelo o que eu vi no video, parece ser muito "duro" em geral.. |:

    Enfim, qm n tem videogame joga tudo no PC, até jogo do barney! =D

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  4. Fallout 3 foi um jogaço que com ctz vai marcar época. Não é a toa que ele é um dos jogos mais debatidos até hj em foruns de jogos.

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  5. Matheus, jogar os outros 2 é facultativo. O Fallout 3 se passa 36 anos depois do segundo, e se você jogar o 2 você vai identificar algumas coisas de cara no 3. Mas não é totalmente necessário. Fica a seu critério.

    Acho que vale a pena jogar só porque os jogos antigos são excelentes =)

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